13 de out. de 2013

Gênesis – Mitos, Lendas e Contos

GÊNESIS 

Michelangelo – ícone da renascença. Foi genial em vários campos e, além disso, recebeu tarefas diplomáticas. David por ser muito grande, alto, a Pietá comove pela tristeza que você vê.
Michelangelo projetou as cenas do Gênesis no teto da Capela Sistina. Entre suas outras esculturas, citamos algumas: Raquel, Moisés, Léia e a Família Médici encomendavam a Michelangelo determinava coisa e ele se dedicava àquilo a um determinado tempo.
A mais famosa das tarefas foi a ilustração no teto da Capela Sistina com 40 metros, que ficou conhecida com o Berço de Deus. Michelangelo demorou 4 anos para terminar. Um esquema que representasse a criação, a queda do Homem, e a Promessa da Salvação. O trabalho faz parte de uma decoração muito mais complexa da Igreja Católica. Contém 300 figuras.

Dividida em 3 grupos em suas ilustrações:

A criação da Terra por Deus;
A criação da Humanidade e sua queda;
E por fim, a Humanidade representada por Noé (que não será lido).

Entre os apreços mais famosos estão: A criação de Adão e Adão e Eva no paraíso. É uma experiência mítica. Estes apreços são feitos direto na parede.



Capítulo 1 - AS ORIGENS

A bíblia remonta aproximadamente 600 anos a.C., antes da escrita. Séculos e séculos de transmissão oral, séculos e séculos de transmissão escrita por copistas (ficar copiando dia e noite) e só a partir do século 18 a imprensa. A tradição oral é muito forte na transmissão bíblica no Antigo Testamento e também no Novo, porém é mais jovem. A origem do mundo de Gênesis tentou encontrar na bíblia cristã (uma delas a catolicista), livro sagrado: Corão ou Alcorão também tem Gênesis.

Três grandes versões: Cristianismo, Islamismo e o Judaísmo. Existem pequenas diferenças. Mostra a marca da tradição oral na transcrição, na oralidade a polissemia era maior do que na escrita, a interpretação. A transmissão vai sofrendo alterações: quem conta um conto, aumenta um ponto.
Todo livro de uma religião, sempre vai tocar na questão da origem, é uma versão para o real.
O primeiro subitem A criação: “No princípio Deus criou os céus e a terra”. Qual o ponto de partida? Existia Deus. Já existe alguma coisa: Deus. Quando vai se teorizar alguma coisa, devemos ter o que chamamos em lógica de axioma: é aquilo que não precisa ser demonstrado. O resto todo da teoria precisa ser demonstrado, mas o “axioma” que é o ponto de partida, ponto de impossibilidade, ele é indemonstrável porque é mítico.
Qual é o axioma de Gênesis? Deus.
Deus existe, é um princípio.
A palavra "axioma" vem do grego αξιωμα (axioma), que significa "considerado válido ou adequado" ou "considerado auto-evidente".Os antigos filósofos gregos viam um axioma como algo que pode ser considerado verdadeiro sem que fosse necessária qualquer demonstração.

“No princípio Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia: as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Informe de forma, que o mito vai fazer uma borda e algo diferenciado, impossível, “o pairava” começa a bordejar. A primeira coisa é uma separação: separando a terra e o céu, o que era um todo indiferenciado é subdivido em terra e céu, começa a ter uma forma o que era informe.
“Deus disse: “Faça-se a luz”!” E a luz foi feita. Deus viu que a luz era boa, e separou a luz das trevas. Deus *CHAMOU a luz DIA, e as trevas NOITE. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia”. É muito interessante, a seqüência, primeiro é introduzida uma cisão num todo diferenciado, agora outras separações: a luz e as trevas. Concomitantemente Ele criou uma dualidade. Como eu sei que algo é Luz? Por causa das trevas, e vice-versa, sempre com um contraponto. Ele não cria o dia e a noite, e sim a luz e as trevas.
*CHAMOU = isso é uma nomeação e não uma criação. É uma nomeação da criação. A criação são 7 dias, por isso que a semana são 7 dias.
“Deus disse: Faça-se um firmamento entre as águas, e separe ele umas das outras. Deus fez o firmamento e separou as águas que estão debaixo do firmamento daquelas que estão por cima. E assim se fez. Deus chamou ao firmamento CÉUS. Sobreveio à tarde e depois a manhã: foi o segundo dia”. Então outra separação: as águas, outra dualidade: céu e água.
“Deus disse: “Que as águas que estão debaixo dos céus se ajuntem num mesmo lugar, e apareça, o elemento árido”. E assim se fez. Deus chamou ao elemento árido TERRA, e ao ajuntamento das águas MAR. E Deus viu que isto era bom”. 
“E Deus viu que isto era bom...” a própria visão seria um complemento, então a visão se cria junto com o que é visto! Não há como ele ver, Ele vê que é bom depois que Ele cria. O ato de Deus é um ato inconsciente. Só tem consciência depois que vê.
Não existe um julgamento que anteceda a criação, então não há como dizer que Ele julgava algo. O julgamento a respeito da criação só vem depois que a criação é feita, e qual é o julgamento? O que Ele criou é BOM, até então não havia julgamento, não podemos dizer que Ele criou o mundo para criar algo bom, e Ele CRIOU e isso foi BOM. O ato ele é sem qualidade, isso que o artista experencia.
Eu não procuro, eu encontro. “Picasso”.
Não havia o BOM e o RUIM, havia o ato de criação, sem qualidade, e uma vez criada a coisa, aí sim aparece o BOM e o RUIM pra julgá-lo, o julgamento vem depois do ato.
“Deus disse: “Produza a terra plantas, ervas que contenham semente e árvores frutíferas que dêem fruto segundo a sua espécie e o fruto contenha a sua semente.” E assim foi feito. A terra produziu plantas, ervas que contém semente segundo a sua espécie, e árvores que produzem fruto segundo a sua espécie, contendo o fruto a sua semente. E Deus viu que isto era bom. Sobreveio a tarde e depois o amanhã: foi o terceiro dia.” Lá está Deus entregue ao ato de criação, a criação passa por Ele, e aí Ele vê. Costumamos achar que o criador faz uma comparação com o artista, ele planeja e cria, e aqui do jeito que o mito traz é a própria experiência do artista.
“Deus disse: “Façam-se luzeiros no firmamento dos céus para separar o dia da noite; sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos; e resplandeçam no firmamento dos céus para iluminar a terra.” E assim se fez. Deus fez os dois grandes luzeiros: o maior para presidir ao dia, e o menor para presidir a noite; e fez também as estrelas. Deus colocou-se no firmamento dos céus para que iluminassem a terra, presidissem o dia e a noite, e separassem a luz das trevas. E Deus viu que isto era bom. Sobreveio à tarde e depois a manhã: foi o quarto dia.” Luzeiros: Sol, Lua e as Estrelas. Deus ordenando que a luz se reúna do Sol durante o dia, e se reúna durante a noite na lua e nas estrelas é uma organização que Ele esta fazendo, porque Ele já criou.
“Deus disse: “Pululem as águas de uma multidão de seres vivos, e voem aves sobre a terra, debaixo do firmamento dos céus”. Deus criou os monstros marinhos e toda a multidão de seres vivos que enchem as águas, segundo a sua espécie. E Deus viu que isto era bom. E Deus os abençoou: Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, e enchei as águas do mar, e que as aves se multipliquem sobre a terra. Sobreveio à tarde e depois a manhã: foi o quinto dia.” Agora começa a criação dos seres vivos, é um recurso retórico da oralidade, da tradição oral, a repetição é muito importante porque não há o registro clínico é a repetição que sustenta a coerência e a coesão.
“Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra”. Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher*.
(* não há homem nem mulher e sim, HOMEM = VARÃO e MULHER = VIRAGO) Deus os abençoou: “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra”. Deus disse: “Eis que eu vos dou toda a erva que dá sementes sobre a terra, e todas as árvores frutíferas que contém em si mesmas a sua semente, para que vos sirvam de alimento. E a todos os animais da terra, a todas as aves dos céus, a tudo que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de vida, eu dou toda a erva verde por alimento”.
E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia. Continua o julgamento ao depois.



Capítulo 2 - O PARAÍSO
Mais detalhes sobre a criação do Homem. O mito vai ganhando camadas, é uma estrutura folheada, é o sopro de Deus que Michelangelo transforma.
Atenção: tem duas árvores que são destacadas - a da vida e da ciência que distinguem o bem do mal.
O mito é difuso, não tem especificações, personagens muitas vezes não têm nomes. Não importa qual fruta é, o que importa? É QUE A FRUTA É PROIBIDA.
O NÃO é o nascimento do desejo.
Depois da criação vêm os nomes.
Veremos que embora Ele crie a luz, as trevas... (a dualidade), Ele cria o HOMEM. Não aparece na dualidade e sim na unidade, é a única criação dele. A mulher não existe, ela precisa ser inventada.
Não existe a mulher, mas existe o gênero feminino porque a espécie é homo-sapiens, para se obter o gênero feminino não precisa ser o macho, e para você ter o gênero masculino você não precisa ser o macho, gênero não é anatomia é uma identidade sexual. Gênero é uma construção cultural, simbólica. Senão não teríamos os transexuais.
Não há vergonha no momento que eles (homem e mulher) estão nus.

Capítulo 3 – A CULPA ORIGINAL
Na natureza não existe proibição. O livre arbítrio é um produto histórico. Na Idade Média como vimos, as bruxas e feiticeiras mostra como o que se passava com aquela pessoa tinha a ver com uma outra entidade que se apoderou dela: o demônio. Então não é o livre arbítrio.
Noção de indivíduo: suas autorias, a responsabilização pelos seus atos = livre arbítrio.
“A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: “É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?”A mulher respondeu-lhe: “Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.” – Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.” O perigo de comer o fruto ao contrário do que é tradição, não tem nada a ver com o sexo, na natureza não tem esse problema, tem haver com o saber, o fruto proibido é um aspecto sobre um saber sobre o bem e o mal, ou seja, é uma dualidade, só aparecendo concomitantemente, se o Homem não sabe sobre o bem e o mal, ele não sabe sobre o bem ainda. Ele esta num todo indiferenciado, não é essa questão do bem, porque não há o mal, e parece que esse fruto vai permitir o acesso a cisão de separação do bem e o mal, fazendo com que o bem e o mal apareçam. No capítulo anterior não há vergonha do Homem e a Mulher estarem nus, não há bem nem mal. Estamos diante de um mundo da natureza. Se os frutos forem comidos, sairemos da Natureza, entrada de outro mundo, que estamos chamando aqui o mundo da cultura, o mundo da linguagem.
“A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente.” Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si. E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem, e disse-lhe: “Onde estás?” E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me.” O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.” O Senhor Deus disse à mulher: “Por que fizeste isso?” – A mulher serpente enganou-me, - respondeu ela – e eu comi.” É muito interessante que ao comer desse fruto, melhor dizendo, ao se deparar com uma proibição, ele instala concomitantemente um desejo. Ocorre a primeira transgressão, e esse desejo permite acesso ao saber, um saber proibido, e aparece “esconderam-se” até então não havia porque se esconder, nem porque ter vergonha, mentir, é à partir do momento que aparece há proibição que surge a possibilidade de transgressão do universo humano que está montado, esse universo de ter que mentir, ter vergonha, se esconder, desejar. É isso que Levi-Strauss tenta nos mostrar: quando ele diz que a interdição do incesto inaugura a sociedade humana, é a interdição primordial. Em termos de Levi Strauss, a primeira proibição é a interdição do incesto, o que corresponde em Gênesis à proibição do fruto proibido, (a proibição desse fruto), não importa se tem fruto, se não tem fruto, se é serpente se não é serpente, se é maçã, se é pêra, o que importa é a interdição em si, ela quem opera a passagem da natureza, os detalhes alegóricos não tem importância. Em uma sociedade que as filhas estão proibidas de se casarem fora da família, existe a interdição, têm algo que elas não podem, então isso põe o movimento do desejo, isso põe o plano do humano.
Na ilustração de Michelangelo, a serpente é a cara de quem? Da Virago = MULHER.
“Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos: - andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.”  Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o meu domínio.” ... O fato de ser animal rastejante, é tomado com um castigo, ela a rasteja porque foi castigada por Deus. O animal odiado e temido pela mulher. A serpente é castigada e passa a ser um animal rastejante e a mulher é castiga e passa a ter as dores do parto ela é feita numa baita contradição ela vai desejar o marido e como conseqüência ela vai ter dor. Essa é toda a concepção de mulher da sociedade ocidental, as mulheres são mártires.
... “E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias da tua vida. Ela te produzira espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado, porque és pó, e em pó te hás de tornar.” Quais são os castigos? Trabalhar - que não tem nada a ver com a natureza, é da cultura. E morrer – não existia a morte. A morte é um castigo porque uma interdição foi burlada, uma proibição foi enfrentada, porque o desejo falou mais alto que a proibição. Esse é o tema do Édipo.
Em termos de Sófocles, da tragédia grega, qual é a punição a Édipo porque ele realizou o desejo de interditar? Em termos Freudianos, o que pode acontecer com uma criança que dribla a proibição do incesto? Castração, que corresponde em Gênesis à morte. Não importa as alegorias e sim as estruturas.
“Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes.
O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de pele, e os vestiu. E o Senhor disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos, que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente. O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim de Éden Querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida.” O que se dá agora? Restou uma árvore, a árvore da vida, uma vez que o homem foi castigado com a morte, a única saída para ele se livrar da morte é comer o fruto da árvore da vida, mas Deus interdita essa árvore e o expulsa do local onde a árvore está, no entanto fica uma saída em aberto, é essa saída que vai retornar com a vida de Cristo no Novo Testamento.
Quem será o caminho a verdade e a vida? Será Jesus Cristo.

Segundo Campbell no budismo, as pessoas são convidadas a entrar no Éden, enquanto que no catolicismo não, no cristianismo e no judaísmo as pessoas estão interditadas a entrar no paraíso. A não ser que alcancem a vida eterna.

Agora, cada criançinha que nascer vai reviver tudo isso no seu Complexo de Édipo que na altura da sociedade humana é retratado pela tragédia edípica. É a entrada no mundo humano de passagens da natureza à cultura, a interdição primordial.