25 de jun. de 2012

FOLHA ANOS 20 FRIVOLIDADES - A VIDA PARISIENSE FRIVOLIDADES - A VIDA PARISIENSE

As artificialidades da Cidade-Luz tremem diante do espectro da Grande Noite, que sucede a todos os faustos principescos.

Publicado na Folha da Manhã, segunda-feira, 5 de outubro de 1925

Neste texto foi mantida a grafia original

Com a exposição de Artes Decorativas, Paris movimentou-se este ano. Mas Paris não necessita de semelhantes atrativos para ser doce na primavera... O que ela já possui de si é já bastante.

Mas Paris tem uma vida muito mais agitada durante a primavera e os primeiros dias do verão. É então que se fala na capital francesa quase todas as línguas e muito pouco o francês. É que de todos os países afluem visitantes à grande Cidade-Luz.

Assim Paris é a cidade da moda, que não decai, apesar dos seus inúmeros inconvenientes.

E, como é cidade da moda, é uma cidade artificial. Tudo em Paris é artificio.

As mulheres principalmente revestem-se da mais espantosa artificialidade. Uma parisiense moderna - porque também ha parisienses que não são modernas, - mal acaba de comer e toma logo do seu espelhinho portatil do seu estojo de carmim, para avivar o vermelho dos labios. Mas não é só: tinge de preto os olhos, dá coradura às maçãs do rosto, de comum desprovidas de côr, alisa os cabelos, penteia as sobrancelhas e polvilha-se de qualquer perfume.

Essa operação complicada é repetida pelo menos umas dez vezes por dia.

Coisa inutil tudo? Ah! não: O lapis de carmim é feito com glycerina e cacao, de sorte que evita que os labios se abram em chagas. Os cremes e os pós resguardam a pele. Os diversos preparados que se põem nos olhos têm a sua utilidade: uns evitam o estrabismo, outros, a queda das pestanas. As loções fortalecem os cabelos. E assim por diante.

Mas no meio de todas essas drogas ha muito preparado que só pode fazer mal... Donde se conclui que...

O perigo comunista invade Paris.

Já se registraram diversos atentados de origem sovietica e é com calafrios que se aguarda a "Grand Nuit".

Sabem o que é a Grande Noite? Não. Nem tampouco nós, diz-se que é a madrugada tragica de uma era em que se trocam os papeis - o acaso do regime contemporaneo, as trevas donde brota uma luz livida.

Paris, que tem sido theatro de tantas revoluções, teme de presenciar mais essa que se anuncia.

E teme porque a sua vida é toda artificial e o artificial não resiste aos embates de uma avalanche demolidora.

Entretanto Paris não deixa de ser o que Paris tem sido - a cidade alegre das futilidades e das coisas espantosas, com os seus museus multiseculares, as suas obras de arte e outras coisas que se salvam do torvelinho vão da vida dos boulevards...

 

Frivolidades... Sim Paris tem muita frivolidade, mas não se pode negar que tem tambem muita e muita grandeza.

Mas a frivolidade avulta.

Para os sisudos, o segredo da frivolidade estriba-se de ordinario, em um pudor precioso para a tristeza propria e em uma lastima graciosa para a tristeza estranha.

Mostra-se frivolo é um modo de mostrar-se cortes. Mas é o modo mais dificil.

É por isso que o parisiense é estremamente cortes.

A sua vida é toda frivola e cheia de articialidade...